Só não me peça pra falar de amor


Posso te falar de muitas coisas
Coisas banais, coisas sem sentido,
Coisas supérfluas e até indispensáveis.

Posso te falar de pessoas
Pessoas importantes, pessoas estranhas
Pessoas interessantes e outras nem tanto.

Posso te falar de coisas personificadas
Pessoas coisificadas
coisas inesquecíveis e
pessoas lembradas.
Só não me peça pra falar de amor, porque disso eu não sei nada.

Posso te falar dos desejos humanos,
seus anseios e suas frustrações.
Suas vantagens e complicações,
suas conquistas e suas tristes derrotas.

Posso te falar de obsessões e de desinteresses,
de sofrimentos e de alegrias.
De riquezas e de miséria
de falta e de completude.
Só não me peça pra falar de amor, porque disso eu não sei nada.

Posso te falar de verdades,
mas também de muitas mentiras.
De ilusões e de decepções
de fatos e montagens
de realidades e de construções
Só não me peça pra falar de amor, porque disso eu não sei nada.

Posso de falar de todas as artes:
música, pintura, cinema, literatura.
Posso te contar o segredo de Monalisa,
identificar as musas de Modigliani.
Posso decifrar os sonhos de Dali,
dessacralizar os feitos de Michelangelo,
apreciar a loucura dolorida de Kahlo e Van Gogh.

Ainda posso cantarolar todas as letras de Chico
buscar interpretações para os hermanos.
Posso dançar um bom velho samba.
Chorar com as vozes de Elis, Rita, Marisa e Céu.

Com toda força do meu peito posso explodir ao som do rock
De Pink Floyd, Gun’s e Skank.
Posso me indignar com as letras de o Rappa
e refletir com elas.

Se você preferir, meu caro
Posso ouvir e até mesmo comentar as composições de Mozart,
Beethoven, Chopin, Bach, Brahms, Strauss, Villa Lobos e Vivaldi.
de tudo isso eu posso falar.
Só não me peça pra cantar o amor, porque disso eu não sei nada.

Posso até te falar de clássicos
De Coppola, Kubrick, Hitchcocok , Tarantino,
Almodóvar, Wood Allen, Polanski e Glauber Rocha.
Podemos criticar os roteiros, os cortes e a fotografia.
Elogiar as tomadas, as sequências e as surpresas da trama.
Mas não me peça para filmar o amor, porque disso eu não sei nada.

Posso analisar as personagens machadianas.
Emocionar-me com os versos de Drummond,
diferenciar cada personalidade de Pessoa,
identificar cada nuance de Clarice.
Criticar as invenções dos modernos
e a falta de substrato dos contemporâneos
Só não me peça pra escrever o amor, porque disso eu não sei nada.

Posso te contar mil aventuras,
descrever a beleza de muitos lugares.
Fazer-te viajar em seus encantos
E te encantar nessas viagens
Mas não me peça pra descrever o amor, porque disso eu não sei nada.

Eu até posso aqui filosofar
Falar-te de todas as ausências da humanidade
e de sua mais sincera vitória.
Teorizar todos os filósofos
E encontrar falhas em suas teorias.

Posso te falar de todas as coisas que vivi,
Mas não me peça para falar de amor, querido
Porque disso eu não vivi nada.

Maria de Beauté

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Sobre este blog

“Nós que não estamos aqui só a passeio...” Temos um árduo caminho a percorrer. Um caminho cheio de altos e baixos, cheio de desafios, de obstáculos, de alegrias e descobrimentos. O caminho leva ao sacrifício que muitas vezes implica em solidão. Mas, envolvidos em uma atmosfera inebriante, buscamos o que nos move: amor, paixões, sonhos... não importa. Iniciamos o processo, seguimos o caminho e ao longo dele nos deparamos com outros que também estão em busca de si. É assim que começamos a dividir, conhecer, acrescentar, compartilhar... experiências, momentos, vidas e prosas.

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