Por fim


EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Charles Baudelaire

Carta a Nora, por James Joyce

Mais um de Amor



Sabemos que é fogo
Quando queima sem ardor
Quando aquece o peito
E se revela Amor.

Sabemos que é Amor
Quando se mostra belo
Quando se mantém firme
Quando se torna elo.

Sabemos que é real
Quando vivemos o sonho
E o que a gente vive
Não é mais abandono.

Quando sonhamos a dois
E acordamos juntos
em dias felizes
do Amor mais profundo.

A Felicidade da Mulher Apaixonada



“A suprema Felicidade da mulher apaixonada é ser reconhecida pelo homem amado como parte dele, quando ele diz “nós”, ela é associada e identificada com ele, compartilha do seu prestígio e reina com ele sobre o resto do mundo:  nunca se cansa de repetir – até o infinito – esse deleitável “nós”.

Simone de Beauvoir

Amor Brando


Eu já sinto um calor de amor
Quando você chega aqui
Tava tudo tão facinho, no rasinho
E eu sem me dar conta
Assim fui indo
Agora sinto um calor de amor
Quando você chega aqui
E eu te peço que
Se aproxime de mim um pouco
Mas não tanto
A ponto de eu sentir sua falta
Quando você for embora

Karina Buhr

Dia D


QUADRILHA


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

Flor da Paisagem


Teus ói é a flor da paisagem,

sereno, o fim da viagem.
Teus ói é a cor da beleza,
sorriso da natureza.

Azul de prata, meu litoral.
dois brincos de pedra rara.
Riacho de água clara,
roupa com cheiro de mala.

Zoim assim são mais belos
que renda branca, que renda branca,
que renda branca na sala.

Quem vê não enxerga a praia.
Nóis num lençol,
nóis num lençol,
nóis num lençol de cambraia!

Teus ói no fim da vereda,
amor de papel de seda.
Teus ói clareia o roçado,
reluz teu cordão colado.

(de renda branca na sala...)
(nóis num lençol...
nóis num lençol de cambraia!)

Robertinho de Recife e Fausto Nilo

Não Me Arrependo


Eu não me arrependo de você

Cê não me devia maldizer assim
Vi você crescer
Fiz você crescer
Vi cê me fazer crescer também
Pra além de mim...
Não, nada irá neste mundo
Apagar o desenho que temos aqui
Nem o maior dos seus erros
Meus erros, remorsos
O farão sumir..
Vejo essas novas pessoas
Que nós engendramos em nós
E de nós
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz...
Caetano Veloso

Every Little Thing She Does Is Magic



Though I've tried before to tell her
Of the feelings I have for her in my heart
Every time that I come near her
I just lose my nerve
As I've done from the start

Every little thing she does is magic
Everything she does just turns me on
Even though my life before was tragic
Now I know my love for her goes on

Do I have to tell the story
Of a thousand rainy days since we first met
It's a big enough umbrella
But it's always me that ends up getting wet

Every little thing she does is magic
Everything she does just turns me on
Even though my life before was tragic
Now I know my love for her goes on

I resolve to call her up a thousand times a day
And ask her if she'll marry me in some old fashioned way
But my silent fears have gripped me
Long before I reach the phone
Long before my tongue has tripped me
Must I always be alone?

Every little thing she does is magic
Everything she does just turns me on
Even though my life before was tragic
Now I know my love for her goes on

Sting

nalgum lugar...


nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além

de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como 
dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas!

Zeca Baleiro sobre poema de e. e. cummings

Stairway To Heaven



There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
When she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for

And she's buying a stairway to heaven

There's a sign on the wall, but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven

Oh, it makes me wonder
Oh, it makes me wonder

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking

Oh, it makes me wonder
Oh, really makes me wonder

And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forests will echo with laughter

If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now
It's just a spring clean for the may queen
Yes, there are two paths you can go by, but in the long run
There's still time to change the road you're on

And it makes me wonder

Your head is humming and it won't go
In case you don't know, the piper's calling you to join him
Dear lady, can you hear the wind blow
And did you know your stairway lies on the whispering wind

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold and if you listen very hard

The tune will come to you at last
When all are one and one is all, yeah
To be a rock and not to roll
And she's buying a stairway to heaven

Jimmy Page e Robert Plant

Flor Murcha


Murchou entre os espinhos 
A tão formosa flor 
que brotou no triste inverno 
e a todos encantou. 
Fez brilhar a alegria,
 com a beleza da sua cor. 
Convidou a primavera 
e o Amor desenterrou. 
Hoje murcham suas pétalas 
Uma a uma. Quanta dor!
 Seu perfume não exala
 Nesse dia incolor. 


Maria de Beauté 

...


Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.

Mário Quintana

Rayuela














Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo.
Lo que me gusta de tu sexo es la boca.
Lo que me gusta de tu boca es la lengua.
Lo que me gusta de tu lengua es la palabra.

Julio Cortázar

Pintura viva

Encontro comigo


Numa noite quente
Lua alegre sorridente
Repiquei o cabelo no banho
Joguei as pontas no mar.
Vesti meu vestido vermelho
Cor de vinho doce no paladar.
Usei meu perfume de rosas
Mas não quero as dores perigosas.
Prefiro os pés no chão
Uma música retrô na vitrola
Uma sintonia no coração
Uma voz feminina rouca
talvez esteja louca
ou talvez esteja solta.
Hoje vou ao meu encontro.
não uso maquiagem, sei exatamente como sou
O espelho mostra o  brilho dos meus olhos.
a malícia de um sorriso pueril.
Eu me tiro pra dançar.
Não me conte problemas, não seja infantil.
A melodia invade meu corpo
E o pensamento  morreu.
Hoje eu não quero mais nada
Quero apenas ser eu.

Maria de Beauté


Tempo de Maria


CASO PLUVIOSO

A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que Maria é que chovia.

A chuva era Maria. E cada pingo
de Maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura…
Maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa… Nossa!

Não me chovas, Maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão – pois que Maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira Maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
poças dágua gelada ia tecendo.

Choveu tanto Maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de Maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.

Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas dágua mais deliram,

e Maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,

e Maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, Maria! – e ela parou.

Carlos Drummond de Andrade

Sobre este blog

“Nós que não estamos aqui só a passeio...” Temos um árduo caminho a percorrer. Um caminho cheio de altos e baixos, cheio de desafios, de obstáculos, de alegrias e descobrimentos. O caminho leva ao sacrifício que muitas vezes implica em solidão. Mas, envolvidos em uma atmosfera inebriante, buscamos o que nos move: amor, paixões, sonhos... não importa. Iniciamos o processo, seguimos o caminho e ao longo dele nos deparamos com outros que também estão em busca de si. É assim que começamos a dividir, conhecer, acrescentar, compartilhar... experiências, momentos, vidas e prosas.

Maria de Beauté


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