Viciados

Não quero ser mais do que sou
não desejo o intocável
não pretendo o impossível
apenas percorro trôpega
o caminho traçado à minha frente.
E nesse caminho tropeço
caio e recomeço,
esbarro nos ébrios
desorientados pelo amor
que desesperados
procuram uma saída para a sua dor.
E esses viciados
não conhecem a direção
mas preferem perder-se em desvios
do que caminhar na solidão.  

Maria de Beauté

Alimente a chama


Não precisa acreditar,

muito menos entender
sentir é a forma mais sincera
que você pode me ter.
Não deseje o impossível
do que pode acontecer
apenas alimente a chama
para que ela possa te aquecer.
E se um dia ela apagar
não chegue a entristecer,
pois o calor dado a você
será impossível de esquecer.
Enquanto ela não morre
aproveite o seu ardor
quem sabe ela não cresça
com a doçura do seu Amor?


Maria de Beauté

I


Penetrando as lentes embaçadas da timidez, o negro marcado dos olhos dela mergulhou nos seus indefesos cor de mel e com o calor de uma brasa ardente derreteu as trancas do seu coração. Embaixo da capa antiquada, ela descobriu uma usina de sonhos alimentada pela ilusão, que se mantinha produtiva apesar da realidade. Os lábios vermelhos dela riam-se da inocência das palavras dele que, apesar de belas, eram frágeis demais. Indiferente ao seu descrédito, ele ocupava-se de aproveitar a oportunidade de ser, para ela, algo mais que superficial. Indiferente ao esforço, ela ocupava-se de expor as falhas dos seus planos e de destruir o castelo de cartas ilusórias em que ele depositou sua crença na felicidade. Os calos do coração dele fizeram-no querer lutar por um amor verdadeiro. Os calos do coração dela fizeram-na costumar-se à amargura da solidão. Enquanto ele adoçava a sua vida com poesias, ela embriagava-se com o fel da desilusão, enquanto ele a presenteava com gestos apaixonados, ela o agredia com uma sinceridade impiedosa. Com pétalas de rosas ele toca seu corpo, com os espinhos ela faz do prazer uma diversão passageira. Ele a encanta, ela o seduz, ele sonha e ela o acorda, ele quer a luz do dia e ela a noite perigosa, ele quer o altar e ela quer a cama. Ele quer a certeza do amanhã e ela a intensidade do agora.


Maria

Menina da Lua

Eu toquei a felicidade


Ao pegar uma estrada sem destino
e não ter medo de chegar.
Ao sentir o vento sussurrando no ouvido
uma canção pra me alegrar.

Ao olhar para o céu e ver
o bordado das estrelas na noite quente,
ao sentir a emoção e o frio na barriga
pedindo pra seguir em frente.

Ao ver gente simples de pé no chão,
plantando aquilo que come
e colhendo com as próprias mãos.
Gente rica em Fé e em gratidão
dando tudo de si com o coração.

Toquei a felicidade

ao ver o sol se por em muitos lugares
ao ver o sol se por na minha terra.
Pousando vagarosamente sobre os cocais,
tingindo o céu de vermelho, dourado e lilás.

Toquei a felicidade, senti a felicidade
mas dessa vez tive a coragem
de lembrar que estava ali só de passagem.

Maria de Beauté

Alados


Uma lagarta se escora sobre uma folha verdinha
Depois que come todinha, deixa o talo e vai embora
Quando sente que é a hora de fazer meditação
Se vira em adivinhão e dependurada demora
Se transforma e vai embora, encantada e feminina
Borboleta bailarina, ninfa da brisa e da flora
Numa noite escura, criaturinhas que vagam
Luz ascendem, luz apagam, aqui, ali, acolá
Transformando o jatobá numa árvore natalina
Brilhantes de pela fina no pescoço de Iaiá
Riscando pra lá, pra cá, sem som, sem rosto e perfume
Pirilampo vaga-lume, mosca de fogo auá
Balançando em suspensão, de fuzil engatilhado
Vai e vem desconfiado tarimbado em traição
Na ponta do seu ferrão o gume da baioneta
O fogo da malagueta e a quentura de um tição
Mestre cavalo-do-cão, tranca a rua e traiçoeiro
Marimbondo fuzileiro do quartel de papelão

Siba e Fuloresta

A Catedral


Direção: Tomasz Baginski, baseado no conto de Jacek Dukaj

Sobre este blog

“Nós que não estamos aqui só a passeio...” Temos um árduo caminho a percorrer. Um caminho cheio de altos e baixos, cheio de desafios, de obstáculos, de alegrias e descobrimentos. O caminho leva ao sacrifício que muitas vezes implica em solidão. Mas, envolvidos em uma atmosfera inebriante, buscamos o que nos move: amor, paixões, sonhos... não importa. Iniciamos o processo, seguimos o caminho e ao longo dele nos deparamos com outros que também estão em busca de si. É assim que começamos a dividir, conhecer, acrescentar, compartilhar... experiências, momentos, vidas e prosas.

Maria de Beauté


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