João e Maria



Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

Sivuca - Chico Buarque

Eu nem sempre sou Maria....

às vezes sou só uma caixa de papelão vazia.

26 de novembro de 2010. 05h da manhã. Aqui está um alguém tentando escrever sobre si. A hora não é apropriada, nem o momento. Essa é uma hora em que as vidas dormem. Acordados estão apenas os sonhos. Nem mesmo a vida virtual parece ter movimento agora. A madrugada é silenciosa e seu silêncio, apesar de pesado, é pacificador.
Refletindo assim chego à conclusão que os sonhos são a melhor parte das nossas vidas. E isso quer dizer que agora mesmo estou perdendo essa melhor parte. Não é tão diferente o que está acontecendo na minha vida real. Na vida que nem sempre é de Maria. Muitas vezes, tenho a impressão que estou perdendo o melhor dela. Deixando de lado o que realmente faz sentido para me dedicar a práticas insalubres como escrever de madrugada.
Sempre tive uma relação muito próxima com a solidão. Gosto de namorá-la. Não tenho problemas em ficar sozinha, quase sempre, até prefiro. Mesmo assim, preciso de pessoas. Preciso de gente ao meu redor para ter dinamismo. A vida só faz sentido quando é compartilhada. Que graça tem ver o brilho da lua sem poder apontá-lo para alguém e exclamar: olha, que linda?! A beleza só existe de fato quando pode ser dividida.
Por ironia do destino estou experimentando meu medo sem sair de casa. A impressão que tenho é que as pessoas se esvaíram de mim. Ou seria eu que me afastei delas? O fato é que estou cansada de conversas de corredor, frases retóricas, contatos superficiais. E acho que as pessoas com quem cruzo estão cada vez mais vazias, assim como eu também estou.
Realmente me sinto como uma caixa de papelão: vazia, frágil, abandonada, voando por aí sem direção. Às vezes serve para colocar sapato, depois para colocar papéis e, depois, para colocar lixo.
No final das contas sinto que tudo está distante, fisicamente ou não. As pessoas que me fazem bem estão longe (mesmo as que estão perto). Perto de mim está tudo hostil, frio, artificial. Definitivamente não sei aonde foi parar o sentido dessa vida. Talvez na distância? Ou na saudade? Não sei. E nem sei se quero achar.
Maria

Súbito Desejo

Marias também se apaixonam.




Na promessa de um olhar
vi o brotar de um desejo
vontade de me encontrar
naquilo que não tinha apreço.
 Na pele o que brota dos poros
chega a mim como cheiro que arrebata
leva embora a lucidez que maltrata
 e me faz cair nos braços quentes da paixão,  ou da ilusão?
 Tomada pelo súbito desejo
de seguir no ardor da emoção
mergulhei na superfície do teu corpo
envolvida em devaneios de prazer.
 O fogo que arde e queima
leva-nos ao êxtase peculiar
dos amantes embriagados
que de lá não querem mais voltar.

 Mas a fria realidade que insiste em retornar
traz de volta o vazio, a estranheza do olhar,
no dia-a-dia corriqueiro
as cinzas de uma lembrança
quem não sai mais da cabeça
amarga angústia me alcança.
 E vendo-te entregar a outra o calor que foi um dia meu
tão mísero e superficial, com um tom que não é mais teu
encaro o gosto nefasto da dor
e sem poder compartilhar
machuca o peito, fere a alma sem cessar.
 De volta ao mundo escuro e lúcido
tento afastar-me desta dor
e em companhias anônimas
procuro um novo calor.
 Sigo em ruas descompostas
desviando do pensar
perseguida pelo cheiro do teu corpo no ar.
E lembro dos momentos
em que o fogo em nós ardia
insisto no desalento
sem saber se me querias.
 No teu olhar a promessa
meu desejo sufocado
pela postura reflexa
que renega o passado.
 Mas no peito escondido
ainda resta uma centelha
daquele fogo bandido
que contigo incendeia.





Maria de Beauté

Céu - Valsa pra Biu Roque



Toda Maria quer encontrar o seu João. Um João de verdade, que não precisa ter um cavalo branco, nem ser feito da utopia imperfeita dos contos de fada. João precisa apenas ser de Maria. E ela será dele.

Maria de Beauté

Se eu fosse a sua
e não mais uma
as quatro luas eu lhe daria
pra me tornar sua Maria
uma canção eu cantaria
minha resposta ao que eu ouvi
a mais bela melodia
foi roubar pra minha história
sua poesia de outrora
não por jura ou promessa
nem perdão ou vaidade
debaixo da condesseira
sua Maria de verdade


Beto Villares - Céu

Dividindo Céu



Aqui estamos para dividir. Dividir prosas, textos, poesias, experiências, momentos e gostos. A sensibilidade de Maria que me pertence não podia deixar de perceber a sonoridade vagarosa e envolvente da cantora paulista, Céu. Valorizada no exterior, Céu já vendeu mais de 250 mil cópias do seu primeiro CD e está conquistando um público fiel e apaixonado também no Brasil, onde seu novo álbum, “Vagarosa”, está surpreendendo em vendas. A música de Céu é umas das inspirações da vida de mulher Maria, exposta nas linhas deste blog. Aqui certamente muito se falará dela, de sua malemolência, de sua melodia, de sua vagarosidade e, principalmente, do seu talento admirável e peculiar. 


Maria de Beauté

Pela Janela




Abro a janela e vejo um caminho
Não sei onde vai dar,
Mas quero percorrê-lo.
O caminho que vejo é cheio de flores
que se alegram à luz do sol
e me convidam a caminhar.
Deixo a janela e sigo o caminho
descubro nele obstáculos e imperfeições
as flores de perto já não são tão belas
a luz do sol agora queima
os espinhos machucam,
mas o caminho seduz.
A dor me obriga a voltar à janela
de lá vejo mais adiante
adiante de tudo que era comum.
Nuvens densas escurecem o caminho
não consigo ver o seu fim.
Vou sair da janela, vou sair daqui!
Quem sabe depois das nuvens haja um mundo
Vou conhecê-lo e só então
Saber o que quer de mim.
Livre da janela vejo o mundo
bem diferente daquele de outrora
O mundo que vejo me amedronta,
mas não paralisa, pelo contrário,
convida-me a entrar.
E agora que já estou aqui
nem que queira posso voltar
sinto-me parte desse meio
apesar dos medos que ainda tenho.
Lembro-me do caminho,
das flores e das pedras,
da beleza e da dor.



Maria de Beauté

Sobre este blog

“Nós que não estamos aqui só a passeio...” Temos um árduo caminho a percorrer. Um caminho cheio de altos e baixos, cheio de desafios, de obstáculos, de alegrias e descobrimentos. O caminho leva ao sacrifício que muitas vezes implica em solidão. Mas, envolvidos em uma atmosfera inebriante, buscamos o que nos move: amor, paixões, sonhos... não importa. Iniciamos o processo, seguimos o caminho e ao longo dele nos deparamos com outros que também estão em busca de si. É assim que começamos a dividir, conhecer, acrescentar, compartilhar... experiências, momentos, vidas e prosas.

Maria de Beauté


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