Certas
coisas
não se podem
deixar para depois.
Muitos
poemas perdi
pensando:
"depois escrevo",
"agora
estou almoçando"
ou
"consertando a porta".
Assim,
adiei-perdi
o melhor? de
mim.
Certas
coisas
não se podem
deixar para depois,
e nisto
incluo: frutos no galho,
mudanças
sociais,
certas coxas
e bocas
e esta manhã
que se esvai.
Certas
coisas
não se podem
deixar para depois.
O amor não
se adia
como se
adiam o imposto, a viagem, a utopia.
O desejo
sabe o que quer,
detesta
burocracia.
Feito
depois, o amor
é murcha lembrança
do que, não
sendo, seria.
Certas
coisas
não se podem
deixar para depois.
Como o amor
e as pessoas,
não se pode
recuperar
- a poesia.
Affonso Romano de Sant'Anna